quinta-feira, 24 de março de 2011

THEALOGIA - ESPIRITUALIDADE FEMININA



“Las mujeres de la Diosa”
(Tradução: Luciana Onofre)
Texto de: Anália Bernardo

A meados da década de 70, dentro do movimento feminista nos Estados Unidos, Zsuzsanna Budapest e Starhawk, vincularam a Tradição das Deusas e Bruxas com as lutas pelos direitos das mulheres, criando junto a outras pesquisadoras o conceito do Sagrado Feminino, uma corrente espiritual cuja cosmo visão e prática ritual não provinham de nenhuma igreja ou religião judaico-cristã.

Assim surge o Movimento das Deusas, a Witchcraft, e a Espiritualidade Feminina que celebram as Deusas, imanentes à natureza, às mulheres e nas relações culturais que surgem dessa cosmovisão.
Uma Espiritualidade que devolveu às mulheres o direito a liberdade de culto do Divino Feminino, sem uma autoridade religiosa masculina ou guru iluminado, que defina as crenças das mulheres e como exercê-las.

Ou seja, foram as mulheres as que se apropriaram desse direito, recriando a antiga religião matrifocal com projeções políticas, sexuais de gênero, ecológicas e comunitárias, que estiveram presentes nas tradições das Bruxas, Sacerdotisas e Xamãs na Europa pré-cristã, e em outros lugares onde as Deusas expressavam as potencialidades dos corpos, almas, mentes e criações das mulheres de forma positiva, outorgando liberdade, dignidade e poder de vinculação com os demais sem o caráter de subjugo sexual.

O pecado original, a culpa de Eva, o Deus pai, o Demônio e a necessidade de redenção da natureza perdida pelo pecado, não fazem parte desta cosmovisão ancestral.
Até então as religiões que majoritariamente as mulheres conheciam e praticavam eram as espiritualidades e teologias criadas e dirigidas pelos homens, centradas em figuras masculinas como Javeh, Jesus, Alá, Khrisna, Buda; onde a discriminação e desvalorização das mulheres e do Divino Feminino se mantinham sem modificações há séculos. Entre tanto, dois milênios de cristianismo se tornam pouco, por exemplo, ao ser comparado com o culto matrifocal, existente a partir do Paleolítico superior, 20 mil anos AC. E no Neolítico Agrícola, 7 mil anos AC, até as culturas clássicas da Antiguidade e os primeiros séculos do cristianismo. E ainda quando Constantino decretava o fechamento de templos e declarava o cristianismo como religião oficial dos povos da Europa, estes seguiam praticando seus cultos para o Divino Feminino, empregando diversos nomes, ritos lunares, sazonais e Xamânicos.

Assim sendo, a igreja criou um sistema de perseguição, tortura, e morte, inimaginável, para erradicar esta religiosidade tão enraizada na vida de gente comum, e que colocava às mulheres em lugar de respeito e dignidade, especialmente às bruxas, como sacerdotisas de ritos lunare, e agrícolas, conhecedoras de ervas curativas e anticoncepcionais, e de técnicas xamânicas para a visão sagrada, como pessoas com poder pessoal, social e espiritual, dentro das comunidades.


O retorno das Grandes Deusas

Em 1976, Merlin Stone publicou “Quando Deus era Mulher”, abrindo o caminho para uma série de estudos sobre as influências das religiões no processo de apropriação da dignidade e de empoderamento do eu. Aquele livro foi pioneiro e inspirou outras pesquisas que reinterpretaram mitos, tradições, ritos e evidências arqueológicas e antropológicas, sobre as religiões matrifocais que antecederam às patriarcalistas, realizados por Bárbara Walker, Mônica Sjoô, Riane Eisler, Caitlin Mathews, Mary Daly, Vicky Noble, Charlene Spretnak, Carol Christ, e as já citadas, Budapest e Starhawk.

A Espiritualidade Feminina conta com o trabalho arqueológico de Marija Gimbutas, quem orientou escavações na Europa Central e do Este, trazendo à luz evidências sobre civilizações matrifocais – que evoluíram entre 6.500 e 3.500 AC - como uma sociedade pacífica, que não construía armas de guerra, e se dedicava à agricultura, arte, comercio e religiosidade, e na que – de acordo a evidências funerárias – não havia uma hierarquização de gêneros. Mulheres e homens se vislumbravam como filhos de uma mãe em comum, a Deusa, vivenciando uma forma de igualdade de gêneros.

Gimbutas interpretou inúmeras estatuetas de deusas, objetos rituais e da vida cotidiana, nos quais se expressa a cosmovisão sagrada associada aos ciclos da lua, da mulher, da natureza, da consciência humana e de todos os seres vivos com o arquétipo da Deusa-serpente, da Deusa-pássaro, criadora, a Deusa sustentadora (do cereal, da agricultura, da cultura), e a Deusa da Morte e o Renascimento. Uma Tríade feminina mais antiga que a cristã e a indiana, por exemplo, celebrada com seus filhos e filhas, e consortes.

Esta pesquisadora de origem lituana fez uma leitura arqueológica e mitológica, denotando que as simbologias sagradas e arquetípicas das deusas de culturas posteriores, já estavam presentes nos assentamentos neolíticos. Gimbutas destacou a continuidade da cosmovisão matrifocal neolítica, procedente das “Vênus” paleolíticas dos sapiens coletores, e caçadores das cavernas, e a sobrevivência nas tradições das deusas posteriores ao neolítico, que conhecemos como Eurinome, Gea, Ártemis, Hékate, Atenas, Isis, Nut, Maat, Inanna, Ishtar, Alat, Aserath, Rhea, Demeter, Perséfone, Diana, Juno, Minerva, Eire, Brigid, Freya, Baba Yagá, as Musas, as Parcas, as Graças, entre outras.

Gimbutas comprovou a tese de Jean Ellen Harrison, especialista em mitologia grega de Cambridge nos anos 30, a primeira a assinalar que as deusas gregas procediam de uma época histórica pré olímpica, e que o casamento de Hera e Zeus, não existia em suas origens. Este casamento forçado refletia o trânsito, às vezes dramático e violento, das culturas matrilineares às patriarcais, após a conquista armada e à inversão dos mitos de origem. Incluso diferenciava aos deuses guerreiros daqueles agrícolas da idade matrilinear: Hermes, Pã, Dionísio, indicando que o culto às deusas não excluía o Sagrado Masculino, porém não adorava a um deus pai guerreiro e dominador, nem a deidades masculinas que violentavam e matavam a deusas e mulheres, como ocorre nos mitos tardios, surgidos daquela conquista e reforma.

Para Harrison os mitos gregos consistiam em tentativas, às vezes grosseiras e desesperadas de tentar modificar as crenças na Grande Mãe, suplantando-as com conceitos político-religiosos, como o mito de Atena, nascida da cabeça de Zeus, armada como uma guerreira, substituindo a ancestral Atena, uma deidade sem pai, padroeira de sabedoria e da inteligência, e assim apresentar aos deuses arquipatriarcais (como Harrison os qualificou) como sendo primevos, melhores e supremos.

Robert Graves difundiu fora do âmbito acadêmico o trabalho de Harrison, porém foi Gimbutas quem proporcionou as provas arqueológicas sobre as ondas invasoras patriarcais, assim como a cosmovisão cultural e religiosa quanto às Deusas Mães, até então considerada por muitos como simples “cultos de fertilidade”.

Por sua parte, a antropóloga Margaret Murray apresentou provas da Tradição das Bruxas como um Xamanismo europeu cujas origens se remetem aos Xamãs paleolíticos e siberianos.
As neo junguianas Silvia Brinton Perera, Marion Woodman, Jean Shinoda Bolen e Clarissa Pinkola Estes, realizaram uma tarefa similar à arqueológica, com o intuito de desenterrar o arquétipo da Grande Deusa, das profundezas do inconsciente pessoal e coletivo, de mulheres aonde a cultura e o ego patriarcal o tinham recluso, reprimindo-o, para que as deusas não outorgassem poder espiritual, emocional e cultural ao corpo, à sexualidade, à liberdade e à consciência das mulheres.

Para as junguianas, os mitos tardios, como o de Atena nascendo da cabeça de Zeus, foram apreendidos profundamente pelas mulheres que cresceram sendo educadas segundo o ideário feminino da mentalidade patriarcal, tendo que adotar nos últimos períodos modos patriarcais, a fim de serem reconhecidas como “Filhas do Pai” e obter êxito profissional e intelectual.

Thealogia da Espiritualidade Feminina

Assim, as práticas do Movimento da Deusa, contam com uma thealogia (de Thea, a Deusa) rica e diversa, procedentes de muitas fontes – não apenas acadêmicas - já que não é este um discurso unificado, e nem ditado por uma autoridade centralizada.
Para a thealogia, as Deusas são vivenciadas por mulheres de muitas formas, mediante uma das cosmovisões básicas com a nítida intenção de que não reproduzam estereótipos femininos e masculinos. A deidade criadora é celebrada na natureza como uma deidade que permanece imanente no mundo, e no universo que ela criou. Ela é vida, natureza, a criação, o espírito, as plantas, as montanhas, os lagos, os animais, e as pessoas. Reina nos céus, na terra e no outro mundo, abarcando os três mundos como acontece com deidades tríplices.

A Thealogia das deusas compartilha muitos pontos de vista com tradições de povos autóctones e indígenas, que celebram o Sagrado Feminino com deidades como Andra Mari, Cerridwen, Ixchel, Pachamama, Mulher Aranha, Mulher Urso, Sedna, Amaterazu, Iemanjá, Umai, Kali...
A Criadora se apresenta ciclicamente como tríplice: a Virgem da Lua Crescente e da Primavera ( virgem por que ainda pertence a si mesma), a Mãe ou Adulta Plena da Lua Cheia e do Verão, e a Anciã Sabia da Lua Minguante e do outono, para depois se transformar na Deusa Escura da Lua Nova e do Inverno, no aspecto que se manifesta além da triplicidade, já citada. Ela é celebrada por mulheres deste movimento a cada mudança do ciclo lunar e estação.

A tríplice deusa celebra as idades da mulher e as três gerações de mulheres, que convivem num mesmo tempo e cultura. E vincula-as aos antepassados, tanto a mulheres como a homens do presente e as gerações futuras.
Esta tríade feminina é também um arquétipo na consciência profunda da mulher, em qualquer das suas idades biológicas, porque expressa diferentes processos internos e capacidades para ser e agir.

Este movimento não é um monoteísmo de saias, por isso também celebra o Sagrado Masculino partindo do ancestral deus agrícola e silvícola, oriundo das crenças paleolíticas e neolíticas, entendido como filho, amante consorte e iniciado em diversas manifestações sazonais e cíclicas.

Círculos e Grupos

Budapest e Starhawk, em companhia de outras mulheres Bruxas e Sacerdotisas têm se dedicado à formação espiritual de mulheres em círculos e grupos com consciência de gênero. Publicando livros contendo rituais sazonais e lunares. E propõem ritos menstruais, de passagem nas idades, de maternidade e de menopausa. Outros rituais para confrontarem problemáticas como o abuso sexual, deter a ação de um violentador, decidir a interrupção de uma gravidez não desejada, melhorar a auto-estima, o ódio pelo próprio corpo, e a depressão.

Incluem em suas práticas a magia feminina como meio de orientar a consciência perante as necessidades básicas no trabalho, no lar, na cura, nos estudos, na vida a dois. É uma espiritualidade onde a magia é somada ao trabalho político e psicológico em busca dos direitos da mulher, nos quais as serpentes, a vulva, e o sangue menstrual, são alguns dos símbolos da sacralidade feminina que voltam a ser utilizados pelas mulheres.

Neste movimento não existem estruturas eclesiais nem dogmas, nem papas, e toda mulher pode celebrar as deusas, juntando-se a outras ou a sós. Nos Estados Unidos, há grupos de mulheres heterossexuais e/ou lesbianas, e outros grupos integrados por homens e mulheres; neles é promovido um compromisso com a vida, com o planeta, e a justiça, mediante ações individuais ou coletivas.

Na América Latina

Nesta região, as mulheres obtêm noticias quanto à Espiritualidade Feminina Pagã, a partir de livros, de oficinas e celebrações do Movimento das Deusas. Tal vez, o aspecto que mais desafia, seja invocar uma deidade feminina nesta parte do continente onde a religião masculina segue influindo na auto-estima das mulheres, negando direitos e apresentando a Maria como uma mulher subordinada ao deus masculino.

Quando as latino-americanas ouvem falar de deusas em relação a suas problemáticas, as percebem como uma fonte de água fresca em meio ao deserto. Pois, faz tão somente cinco séculos que as mulheres adoravam deusas pré colombinas e ainda o fazem em muitas comunidades. Assim, as mulheres da espiritualidade feminina pagã na América Latina, estão resgatando as deusas indígenas, a fim de reencontrar nelas a dimensão sagrada dos seus direitos.

Feministas acadêmicas e políticas costumam temer que esta espiritualidade seja um meio de escapar, que afaste as mulheres da luta pelos direitos, já que todas as religiões que conhecem são opressivas, e não imaginam que possa existir algo diferente a isso. Porém nas três décadas do Movimento das Deusas são suficientes para comprovar a íntima relação que teceram as feministas espiritualistas entre direitos e religiosidade. Para as que celebram as deusas, os fios são entrelaçados sempre.~


Fonte: “Las Mujeres de la Diosa”, suplemento Triple Jornada,octubre 2005, diario La Jornada, México.http://www.jornada.unam.mx/2005/10/03/informacion/ifr_reportajes.htm

A autora: Analía Bernardo é uma Bruxa Argentina,que pratica a Espiritualidade da Deusa e é facilitadora do Sagrado Feminino através de oficinas com o arquétipo da Deusa Tríplice e do sangue escuro das Mulheres , sonhos, consultas de tarô, publica livros digitais, poemas, rituais e artigos de jornal.

N. da T.: Este texto foi devidamente autorizado pela autora para tradução. Nossos agradecimentos .
IN: http://deamatter.blogspot.com/2008/04/espiritualidade-feminina.html

domingo, 20 de março de 2011

Deusa Bast - A Deusa Gata


Dizia a lenda que a Deusa Leoa Sekmet, após ter dizimado parte da humanidade, fora apaziguada e se transformara numa gata mansa. A terrível leoa bebedora de sangue se transformou em Bast, a gata bebedora de leite.

A Deusa egípcia com cabeça de gato, Bast, era uma divindade estritamente solar até a chegada da influência grega na sociedade egípcia, quando se tornou também uma Deusa lunar devido aos gregos que a associaram a Artemis. Datando da 2a. Dinastia (em torno de 2890-2686), Bast foi retratada orginalmente como uma gata do deserto selvagem e também como uma leoa e só foi associada a felinos domesticados por volta de 1000 a.C. Ela foi comumente equiparada a Sekhmet, a Deusa Leoa de Memphis, Wadjet e Hathor. Bast era a "Filha de Rá", uma designação que a colocou no mesmo patamar de Deusas como Maat e Tefnut. Adicionalmente, Bast era considerada um dos "Olhos de Rá" enquanto o outro olho era atribuído a sua irmã Sekmete.

Bast é freqüentemente representada como uma gata ou como uma Deusa com corpo de mulher de cabeça de gata, portando um sistro, um Ankh, ou um bastão de papiro. Quase nunca é mostrada em aspecto humano total.
Conhecida primeiramente como A Gata Selvagem ao longo das margens do Nilo, ou A Gata do Deserto, Bast a princípio não era representada como uma gata doméstica, forma que lhe fora atribuída em períodos mais recentes.
Para os egípcios os gatos representavam o Sol, a Rainha e também a Lua. Encontramos inúmeras representações do gato sagrado do Deus Rá comendo a serpente das sombras. Em razão disso, Bast passou a ser considerada a Deusa protetora do Faraó, além de a Grande Vingadora.

Em anos mais recentes, Bast foi associada a outros Netjer (Deuses egípcios antigos), como Het-Heret (Hathor) e Aset (Íris). A associação a estas duas Deusas lhe foram atribuídas devido aos seus atributos (música, sensualidade, fertilidade e artes). Por este motivo, o papel de Bast começou a mudar, e se estendeu também para a protetora das mulheres, crianças e famílias. Neste momento, o papel do gato no Egito Antigo também começou a mudar para um parceiro mais doméstico, o que conferiu um estigma mais suave a Bast.
Depois, em tempos helenos, o nome Bast foi associado a Ísis: (Ba-Aset) Ba = alma/Aset = Ísis (Bast = alma de Ísis).

O culto a Bast já era praticado na 1a. Dinastia. Ela hora homenageada com longas procissões à luz de tochas e com mistérios sagrados, como a Deusa da Magia e Tecelagem, Aquela que não nasceu, mas gerou a si mesma. Os egípcios celebravam o banquete de Bast com músicas alegres, dança e bebida numa esta de alegria e prazer total, onde seus adoradores balançavam um sistro durante a celebração para homenageá-la.
Os gregos compararam Bast com Diana e Ártemis e Hórus com Apolo; por isso Bast foi incluída posteriormente nos mitos de Osíris-Íris como sua filha (essa associação, porém, nunca foi feita antes da chegada da influência helênica ao Egito). Ela é considerada a mãe do Deus com cabeça de Leão Mihos (que também foi adorado em Bubástis, com Thoth).
Bast também está ligada a Sekmet, e em tempos modernos, Bast e Sekmet passaram a ser

Deusas gêmeas, faces de uma mesma moeda. As lendas dizem que Thot teria apaziguado a voracidade sangüínea de Sekmet, dando-lhe cerveja para beber em vez de sangue (outras versões dizem que ele lhe deu leite). Sekmete então se transforma em Bast, a Deusa dos festivais, da sensualidade e da bebedeira. Juntas, as irmãs gêmeas formam o conceito do "Yin/Yang" da religião egípcia: Bast como a força positiva de natureza amorosa e apaziguadora, e Sekmet como a força destrutiva e sanguinária.



O fogo estava associado a Bast e Sekmet. Enquanto Sekhmet representava o aspecto negativo-devorador do fogo do deserto (o Sol), como o olho de Rá que queima e executa, Bast representava os aspectos regeneradores do Sol, como o olho de Rá que aquece e traz fertilidade. Bast não era apenas uma divindade associada ao Sol, mas também à Lua, isso porque ela é uma Deusa egípcia vinda do Oriente (leste) e tanto o Sol quanto a Lua nascem no leste e morrem no oeste. A Deusa Bast, por seu parentesco com a Lua, insere-se no mundo unitário do Grande feminino. O gato com olhos brilhantes é um animal lunar, daí a relação de Bast com a cor verde e as mulheres grávidas.

Além de estar ligada ao fogo, ela também estava ligada aos grandes volumes de água. Era tida como o céu noturno e aquela que abre os caminhos, levando consigo a chave dos Deuses da fertilidade, a chave dos porões do útero, do mundo interior, da morte e do renascimento.

Outra face popular de Bast, é a sua forma terrestre, um gato preto sentado. Quando ela assume essa forma, passa a assumir o nome de Bastet. É também conhecida como Pasht (em seu aspecto escuro). É identificada com Ártemis e Diana, além de ser o gentil olho do Sol, a Senhora do Leste. Gatos lhe eram sagrados e embalsamados quando morriam. Ela carrega um sistro e uma cesta e normalmente se veste de verde. Deusa do Fogo, da Lua, do parto, do amor, da sexualidade, do êxtase, da fertilidade, do prazer, da alegria, da música, da dança, da proteção contra as doenças de todos os animais que lhe são sagrados (especialmente os gatos). Domina a intuição, a cura e o matrimônio.
Bast é a Deusa egípcia protetora de gatos, mulheres e crianças. Ela é a Deusa do Amanhecer e do Nascimento. Também é a Deusa da Lua e possuidora de Utchat (o olho do seu irmão Hórus).





O CULTO À DEUSA DEUSA BASTET

BASTET, a deusa gata da mitologia egípcia. Protetora dos gatos, das mulheres, da maternidade, da cura. Era guardiã das casas e feroz defensora dos seus filhos, representando o amor maternal. Tem também grande ligação com a Lua, porque a luz e a magia da Lua influência a todos os felinos. Bastet é uma das esposas de Rá (deus Sol), com quem foi mãe de Nefertum e Mihos. É representada como uma Gata Preta, com um brinco e um colar ou uma mulher com cabeça de gato segurando um sistro, instrumento musical sagrado.

Os antigos egípcios representavam os seus deuses com aspecto humanos e cabeça de animal. Cada deus tem seu animal sagrado associado e digno de adoração, como se fosse a própria divindade. E tal como os humanos os animais eram também mumificados para assim poderem ser preservados no além. Os gatos eram tão sagrados no antigo Egito, que quem matasse um gato era condenado à pena de morte. Considerado um ser divino, ao ponto que quando um deles morria de morte natural, as pessoas da casa raspavam as sobrancelhas em sinal de luto.

O Templo de Bastet era em Bubastis (cidade do Delta do Nilo), cujo nome em egípcio "Per-Bast" (significa: "a casa de Bastet"), mantinha gatos sagrados que eram embalsamados em grandes cerimônias quando morriam, porque eram considerados como encarnação da deusa.

Bastet, Bast, Ubasti, Ba-en-Aset ou “Ailuros”, palavra grega para “gatos” e a palavra egípcia para o gato era “Mau”.

Bastet foi uma das divindades mais veneradas no Antigo Egito. Nas festas dedicadas a Bastet, as ruas enchiam-se de música, de dança, brincadeiras, com muita comida, muitos doces, mel e vinho. As sacerdotisas de Bastet desciam o rio Nilo, anunciando as festividades em homenagem à deusa usando uma espécie de sino de metal, os snujs. A bailarina purificava o ambiente ao dançar com os snujs espantando os maus espíritos.

O símbolo do GATO PRETO era utilizado pelos médicos egípcios para anunciar a sua capacidade de cura.

CORRESPONDÊNCIAS:
Invoque Bast para: alegria, fertilidade, proteção, expansividade, força, saúde, prazer, sexualidade, amor, proteção contra maus espíritos, proteção de animais.
Símbolos: sistro, Lua, Sol, Ankh, Olho de Hórus
Dia: domingo
Cores: verde, laranja, dourado, amarelo
Aroma: açafrão

ALTAR PARA DEUSA BASTET

Deusa Bastet protetora dos lares e da família.

Faça um altar dentro de casa e coloque uma imagem da deusa Bastet e em volta coloque fotos de seus gatos e de sua família (também de seus outros animais de estimação). Sempre que quiser, pode acender uma vela de cor verde ou branca. Peça sempre a proteção e o amor maternal de Bastet, porque ela tem o poder de se transformar em ferocidade quando algum de seus filhos é atacado.

ORAÇÃO DE UMA DEUSA AOS DEUSES EGÍPCIOS
"Em nome de Rá, Ísis, Osíris, Hórus, Ptah, Thot, Tum, Nut, Anubis, Hathor,
Eu sou BASTET, a deusa dos mistérios da natureza".


ALINE SANTOS é Jornalista, Terapeuta Holística, Taróloga, Cabalista, Sacerdotisa, Professora, Educadora Patrimonial, Escritora, Numeróloga, Pesquisadora de Ciências Ocultas, Palestrante, e atende nas áreas de Florais de Bach, Fitoterapia, Aromaterapia, Terapia com cristais, Reiki, Cura Prânica, Tarô Terapêutico e Numerologia.
Email: arcanjo.azul@hotmail.com

quinta-feira, 17 de março de 2011

DEUSA OBÁ - Orixá guerreira e das águas revoltas


Orixá do rio Níger, terceira mulher de Xangô. Orixá, embora feminina, temida, forte, energética, considerada mais forte que muitos Orixás masculinos. Obá Divindade feminina, guerreira que às vezes é também citada como caçadora. Irmã de Óya (Iansã). Foi a terceira e mais velha esposa de Xangô, posteriormente foi mulher de Ogum.

Orixá guerreira, considerada até como uma Iansã velha. Senhora do rio Obá, na Nigéria, patrocinadora de conflitos, energia que se desenvolve nos coriscos.

Na natureza, Obá está ligada às enchentes, às cheias dos rios, às inundações. É ela quem vai reger todos esses fenômenos, sejam naturais ou provocados por erros humanos. Seu encantamento é feito desta forma, quando um rio transborda, inundando tudo.

Obá está presente também nos coriscos, poder que lhe foi dado pelo marido Xangô, pois ela também tem ligação com a energia elétrica, a eletricidade. É poderosa, sábia, madura e realista.


LENDA

Obá vivia em companhia de Oxum e Oyá (Iansã), no reino de Oyó, como uma das esposas de Xangô, dividindo a preferência do reverenciado Rei entre as duas Iyabas (Orixás femininos).

Obá percebia o grande apreço que Xangô tinha por Oxum, que mimosa e dengosa, atendia sempre a todas as preferencias do Rei, sempre servindo e agradando aos seus pedidos. Obá resolveu então, perguntar para Oxum qual era o grande segredo que ela tinha, para que levasse a preferencia do amor de Xangô, vez que Oyá, andava sempre com o Rei em batalhas e conquistas de reinados e terras, pelo seu gênio guerreiro e corajoso e Obà era sempre desprezada e deixada por último na lista das esposas de Xangô.

Oxum então, matreira e esperta, falou que seu segredo era em como preparar o amalá de Xangô principal comida do Rei, que lhe servia sempre que deseja-se bons momentos ao lado do patrono da justiça. Obá, como uma menina ingênua, escutou e registrou todos os ingredientes que Oxum falava e que eram de extrema importância para a realização de tal culinária, sendo que por fim Oxum, falou que além de tudo isso, tinha cortado e colocado uma de suas orelhas na mistura do amalá para enfeitiçar Xangô.

Obá agradeceu a sinceridade de Oxum e saiu para fazer um amalá em louvor ao Rei, enquanto Oxum, ria da ingenuidade de Obá que, sempre atenta a tudo, não percebeu que Oxum mentira, pois ela encontrava-se com suas duas orelhas escondidas sob um turbante. Oxum falara isso somente para debochar de Obá.
Obá em grande sinal de amor pelo seu Rei, preparou um grande amalá, e por fim cortou uma de suas orelhas colocando na mistura e oferecendo à Xangô como gesto de seu sublime amor.

Xangô ao receber a comida, percebeu a orelha de Obá na mistura, e esbravejou e gritou, e ele, num gesto de repugnância, expulsou Obá do reino de Oyó, sem considerar nenhuma explicação. Obá triste e desiludida, fugiu para bem longe e nunca mais voltou aos domínios de Xangô.



O ARQUÉTIPO DE OBÁ

As pessoas pertencentes a este Orixá são lutadoras, bravas, um tanto agressivas, o que as levam a serem pouco incompreendidas. Freqüentemente tendem a terem experiências infelizes e amargas. São ciumentas, pois são muito zelosas com tudo que lhe pertencem.

São pessoas valorosas; incompreendidas; suas tendências, um pouco viris, fazem-na freqüentemente voltarem-se para o feminismo ativo; as suas atividades militantes e agressivas são conseqüências de experiências infelizes ou amargas por elas vividas. Os seus insucessos devem-se a um ciúme um tanto mórbido, entretanto, encontra compensações para as frustrações e sofrimentos em sucessos materiais.

Porém, pessoas de grande valor e dedicação. Tendem a alcançar seus ideais. Dedicadas e muitas vezes ingênuas, principalmente em relação ao amor e as amizades.

Na vida dos seres humanos, Obá rege a desilusão amorosa, a tristeza, o sentimento de perda, o ciúme, a incapacidade do homem de ter aquilo que ama e deseja. Obá é a raiva, a solidão, a depressão, o sentimento de abandono.

Obá é também a frustração do homem e da mulher. Embora a lenda diga ser Obá uma guerreira, vencedora, ela consegue seu encantamento nas desilusões e frustrações, na derrota.

E toda essa dor, essa desesperança, esse abandono, ficou como marca registrada de Obá, e tais sentimentos tem a sua regência. Quando nos sentimos traídos, abandonados, sem esperança, com raiva, frustrados em nossos objetivos, desencadeamos essa força da natureza chamada Obá, que mexe no nosso interior. E a lógica diz que Obá é a “ultima gota”, que faz transbordar nossos sentimentos.

Obá é o desabafo: “ já não suporto mais...” , é a agitação do sentimento indevidamente mexido, afetado por algo ruim.

OBÁ NA NATUREZA

Na natureza, Obá está ligada às enchentes, às cheias dos rios, às inundações. É ela quem vai reger todos esses fenômenos, sejam naturais ou provocados por erros humanos. Seu encantamento é feito desta forma, quando um rio transborda, inundando tudo.

É um ato de excesso, de explosão, de revolta, desencadeado por uma força cósmica. Se um rio enche e transborda, é porque não suporta mais o volume de água, deixando escapar “aquilo que já não cabe mais”. Isso é Obá, essa é a sua regência, seu encantamento, sua influência

Obá está presente também nos coriscos, poder que lhe foi dado pelo marido Xangô, pois ela também tem ligação com a energia elétrica, a eletricidade. É poderosa, sábia, madura e realista.



MITOLOGIA

Uma vez banida do reino de Xangô, Obá se transformou numa guerreira poderosa e perigosa. Costumava vencer todos os seus opositores com relativa facilidade. Obá também possui grande beleza física, que, aliada à sua determinação, coragem e equilíbrio, fazia dela uma pessoa especial.

E o desejo de possuir tão bela e corajosa guerreira, levava muitos guerreiros a se confrontarem com ela, mas saíam sempre derrotados. E a notícia chegou até Ogum, rei de Ire, e guerreiro invencível.

O mensageiro trouxe a notícia:

- Meu senhor, ela é invencível!

- Eu sou invencível!, Rebateu Ogum, ao mensageiro.

- Mas ela é poderosa. Ainda não foi derrotada, Senhor!

- É porque ela não enfrentou Ogum! Disse o próprio.

E Ogum mandou que seu mensageiro fosse avisar a Obá que ele,Ogum, iria enfrentá-la, derrotá-la e possuí-la.

Obá recebeu a mensagem e retrucou:

- Que assim seja...

Ogum partiu de Ire, em busca de sua poderosa adversária e tinha em mente tomá-la para si. No campo, onde a luta seria travada, Ogum chegou primeiro e, como bom caçador, montou a armadilha para derrotar Obá. Mandou que seus homens triturassem uma grande quantidade de quiabo e passassem pelo chão. Assim, Obá não conseguiria ficar de pé e seria facilmente vencida.

A hora chegou. Ambos estavam presentes ao campo de batalha. De um lado Ogum, o guerreiro violento e imbatível. Do outro, Obá, a guerreira bela e invencível. No meio, entre um e outro, a armadilha preparada por Ogum.

Olharam-se, estudaram-se e Obá tomou a iniciativa. Partiu para cima do adversário, sem perceber o quiabo espalhado pelo chão. O tombo foi imediato. Obá não conseguia firmar-se de pé.
Ogum, que a tudo observava, lentamente dirigiu-se à sua adversária, empunhando a espada. Obá, sentindo que seria vencida, num rápido movimento, puxou Ogum para si, fazendo com que o guerreiro também escorregasse e caísse em sua própria armadilha.

Foi uma grande luta! Não de cruzamento de espadas, mas para ficar de pé. Durante horas e horas tentaram os dois, em vão erguer-se e derrotar o oponente, mas não conseguiram nem ao menos colocar os dois pés no chão, sem escorregarem em seguida.

Lutaram até a fadiga total e declararam um empate. Não havia vencedor nem perdedor. Ogum, o invencível, não conseguiu vencer Obá, por sua vez, Obá não conseguiu derrotar o poderoso Ogum.

Ali mesmo amaram-se, em respeito à força e ao encanto do outro. Afinal, são dois verdadeiros guerreiros. Ogum ainda tentou levá-la para si, mas o coração de Obá pertencia, pela eternidade, a Xangô. E ela partiu para encontrar seu próprio destino, mesmo com dor no coração.



CARACTERÍSTICAS:

OBÁ tem um caráter apaixonado, irascível e corajoso, não teme nada nem ninguém, gosta de brigar.
Nada mais natural que ela aprecie a cor vermelha.
OBÁ se veste como os demais orixás de energia negativa, ou seja, feminina, apreciando tecido simples encorpado, sem brilho.
As ferramentas de OBÁ são sempre de cobre.
OBÁ senhora da guerra, amazona destemida, uma sábia e justa feiticeira.
Xangô desdenha OBÁ porque ela é idosa e sem atrativos, mas morre de medo dela, do poder enorme que ela tem.
OBÁ desconhece o medo e não existe empecilhos que a desviem de suas finalidades .
Ela é prática, objetiva, poderosa, leal e corretíssima.
Todo aquele que tenha uma questão em fase de apelação, isto é, se tiver perdido e necessitar recorrer para instância superior, deverá pedir ajuda a OBÁ.
Mas existe um importante lembrete: ELA SÓ AJUDA OS INJUSTIÇADOS.-
Dia: quarta-feira;

Data: 30 e 31 de maio;

Metal: Cobre;

Cor: marrom-rajado;

Partes do corpo: audição, orelha e junto com Ewá, protege o consciente;

Comida: Abará (massa de feijão fradinho cozido enrolado em folhas de bananeira), acarajé e amalá (quiabo picado);

Símbolos: ofangi (espada) e um escudo de cobre.

Fontes:
http://guardioesdaluz.sites.uol.com.br/obaafro.htm
http://dofonodelogum.sites.uol.com.br/oba.html
http://www.vetorial.net/~rakaama/o-oba.htm

ALINE SANTOS é Jornalista, Terapeuta Holística, Taróloga, Cabalista, Sacerdotisa, Professora, Educadora Patrimonial, Escritora, Numeróloga, Pesquisadora de Ciências Ocultas, Palestrante, e atende nas áreas de Florais de Bach, Fitoterapia, Aromaterapia, Terapia com cristais, Reiki, Cura Prânica, Tarô Terapêutico e Numerologia.
Email: arcanjo.azul@hotmail.com

Nanã e a Deusa Mãe em todas as culturas


Grande senhora das terras molhadas e fecundas, com a qual foram criados todos os seres, reina na lama que formou a Terra, nas águas paradas e pântanos.
Nanã, senhora de muitos búzios, que simbolizam fecundidade, riqueza e morte. É associada ao barro com que foi moldado o primeiro homem; ao fundo de rios e mares. É o ponto de contato entre as águas e a terra. Vive nas madrugadas, quando o orvalho umedece a terra.
Nanã, pelo fato de ser um dos primeiros Orixás criados por Olorun, é caracterizada como uma anciã, ou uma avó. É guardiã do reinado dos eguns e ancestrais, assim como Obaluayê; usando o ibiri (espécie de bastão ritual com a ponta curva, confeccionado com palha da costa e búzios) como elemento controlador e genitor. Seus preceitos são extremamente complexos e ricos em detalhes... Ao mesmo tempo em que dá vida às criaturas, faz com que retornem ao seu elemento de origem, para mais tarde, renascerem na Terra, formando o ciclo da vida e da morte. Por isso, o corpo após a morte, deve ser devolvido a terra, de onde ele saiu um dia.



ARQUÉTIPO

Nanã Buruku é o arquétipo das pessoas que agem com calma, benevolência, dignidade e gentileza. Das pessoas lentas no cumprimento de seus trabalhos e que julgam ter a eternidade à sua frente para acabar seus afazeres.
Suas filhas têm um temperamento introvertido. Ativas e severas, gostam de ordem e limpeza. São discretas, cumpridoras de suas promessas e adoram crianças. Elas gostam das crianças e educam-nas, talvez, com excesso de doçura e mansidão, pois têm tendência a se comportarem com a indulgência dos avós.

Quando mães, são apegadas aos filhos e muito protetoras. São ciumentas e possessivas. Exigem atenção e respeito, são pouco alegres e não gostam de muitas brincadeiras. São majestosas e seguras nas ações e procuram sempre o caminho da sabedoria e da justiça.

Seus filhos são conservadores e presos aos padrões convencionais estabelecidos pelos homens. Calmos, às vezes mudam rapidamente de comportamento, tornando-se guerreiros e agressivos; quando então, podem ser perigosos, o que assusta as pessoas. Levam seus pontos de vista as últimas conseqüências.

Uma pessoa que tenha Nanã como Orixá de cabeça, pode levar em conta principalmente a figura da avó: carinhosa às vezes até em excesso, levando o conceito de mãe ao exagero, mas também ranzinza, preocupada com detalhes, com forte tendência a sair censurando os outros. Não tem muito senso de humor, o que a faz valorizar demais pequenos incidentes e transformar pequenos problemas em grandes dramas. Ao mesmo tempo, tem uma grande capacidade de compreensão do ser humano, como se fosse muito mais velha do que sua própria existência. Por causa desse fator, o perdão aos que erram e o consolo para quem está sofrendo é uma habilidade natural.



Orixá dos pântanos, da fertilidade, da vida e da morte.

Na sua oferenda usa-se o obé (faca) de madeira, que é anterior ao ferro. É a ancestral feminina de todas as divindades aquáticas. É a purificadora da atmosfera, a divindade das chuvas e seu elemento é o barro que moldou o mundo. Está associada à água, à lama e a morte.

“Nanã, a deusa dos mistérios, é uma divindade de origem simultânea à criação do mundo”
A vida está cercada de mistérios que ao longo da História atormentam o ser humano. Porém, quando ainda na Pré-História, o homem se viu diante do mistério da morte, em seu âmago irrompeu um sentimento ambíguo. Os mitos aliviavam essa dor e a razão apontava para aquilo que era certo no seu destino.

A morte faz surgir no homem os primeiros sentimentos religiosos, e nesse momento Nanã faz-se compreender, pois nos primórdios da História os mortos eram enterrados em posição fetal, remetendo a uma ideia de nascimento ou renascimento. O homem primitivo entendeu que a morte e a vida caminham juntas, entendeu os mistérios de Nanã.

“Nanã é o princípio, o meio e o fim; o nascimento, a vida e a morte”

Ela é a origem e o poder. Entender Nanã é entender o destino, a vida e a trajetória do homem sobre a terra, pois Nanã é a História. Nanã é água parada, água da vida e da morte.
Nanã pode ser a lembrança angustiante da morte na vida do ser humano, mas apenas para aqueles que encaram esse final como algo negativo, como um fardo extremamente pesado que todo o ser carrega desde o seu nascimento. Na verdade, apenas as pessoas que têm o coração repleto de maldade e dedicam a vida a prejudicar o próximo se preocupam com isso.

Aqueles que praticam boas ações vivem preocupados com o seu próprio bem, com a sua elevação espiritual e desejam ao próximo o mesmo que para si, só esperam da vida dias cada vez melhores e têm a morte como algo natural e inevitável. A sua certeza é a imortalidade da sua essência.

É na morte, condição para o renascimento e para a fecundidade, que se encontram os mistérios de Nanã. Respeitada e temida, Nanã, deusa das chuvas, da lama, da terra, juíza que castiga os homens faltosos, é a morte na essência da vida.

Nanã Buruquê representa a junção daquilo que foi criado por Deus. Ela é o ponto de contato da terra com as águas; sendo portanto também sua criação, simultânea a da criação do mundo.

1. Com a junção da água e a terra surgiu o barro.
2. O barro com o sopro divino representa movimento.
3. O movimento adquire estrutura.
4.Do movimento e estrutura surgiram à criação; O homem.

Portanto, para alguns, Nanã é a divindade suprema que junto com Zâmbi (divindade máxima de um culto), fez parte da criação, sendo ela responsável pelo elemento barro, que deu forma ao primeiro homem e de todos os seres viventes da terra, e da continuação da existência humana e também da morte, passando por uma transmutação para que se transforme continuamente e nada se perca.

A senhora do reino da morte é, como elemento, a terra fofa, que recebe os cadáveres, os acalenta e esquenta, numa repetição do ventre, da vida intra-uterina. É, por isso, cercada de muitos mistérios no culto e tratada pelos praticantes com menos familiaridade que os Orixás mais extrovertidos como Ogum e Xangô, por exemplo.

Muitos são portanto os mistérios que Nanã esconde, pois nela entram os mortos e através dela são modificados para poderem nascer novamente. Só através da morte é que poderá acontecer para cada um a nova encarnação, para novo nascimento, a vivência de um novo destino – e a responsável por esse período é justamente Nanã.

Em outra linha da vida, ela é encontrada na menopausa. No inicio desta linha está Oxum estimulando a sexualidade feminina; no meio está Yemanjá, estimulando a maternidade; e no fim está Nanã, paralisando tanto a sexualidade quanto a geração de filhos.

A Orixá Nanã rege sobre a maturidade e seu campo preferencial de atuação é o racional dos seres. Atua decantando os seres emocionados e preparando-os para uma nova “vida”, já mais equilibrada.

Fontes: Pierre Verger
Portal Orixás
Orixás, o segredo da vida - Pai Cido d'Osun
Candomblé o mundo dos Orixás
Blog Labaredas Afro-Ciganas

ALINE SANTOS é Jornalista, Terapeuta Holística, Taróloga, Cabalista, Sacerdotisa, Professora, Educadora Patrimonial, Escritora, Numeróloga, Pesquisadora de Ciências Ocultas, Palestrante, e atende nas áreas de Florais de Bach, Fitoterapia, Aromaterapia, Terapia com cristais, Reiki, Cura Prânica, Tarô Terapêutico e Numerologia.
Email: arcanjo.azul@hotmail.com

terça-feira, 8 de março de 2011

DEUSA OIÁ - IANSÃ


Culto na África

Na Mitologia Yoruba, o nome Oyá provém do rio de mesmo nome na Nigéria, onde seu culto é realizado, atualmente chamado de rio Níger.

É uma divindade das águas como Oxum e Iemanjá, mas també é relacionada ao elemento ar, sendo uma das divindades que controla os ventos.
Costuma ser reverenciada antes de Xangô, como o vento personificado, que precede a tempestade que é uma das representações do Deus do Fogo.

Assim como a Deusa Obá, Oyá também está relacionada ao culto dos mortos, onde recebeu de Xangô a incumbência de guiá-los a um dos nove céus de acordo com suas ações, para assumir tal cargo recebeu do feiticeiro Oxóssi uma espécie de erukê especial, chamado de Eruexim com o qual estaria protegida dos Eguns.

O nome Iansã trata-se de um título que Oyá recebeu de Xangô que faz referência ao entardecer, Iansã = A mãe do céu rosado ou A mãe do entardecer.

Era como Xangô a chamava pois dizia que ela era radiante como o entardecer, e é por isso que o rosa é sua cor por excelência. Os africanos costumam saudá-la antes das tempestades pedindo a ela que apazigue Xangô o Deus das Tempestades pedindo a ele clemência.

Outra lenda narra que antes de se tornar mulher de Xangô, Iansã (Oyá) viveu com Ogum. Lamentando não ter filhos, consultou um Babalaô que a aconselhou fazer oferendas, entre essas um pano vermelho. Cumprida a obrigação, tornou-se mãe de nove crianças, o que, em iorubá, se exprime pela frase "Iyá omo mesan", que seria a origem de seu nome Iansã.

Culto no Brasil

No candomblé a cor utilizada para representá-la é o vermelho Na umbanda sua cor é o Coral. No Brasil houve uma grande distorção com relação as suas regências e origens. Iansã ou Oyá, como é também chamada no Brasil, é uma divindade da Mitologia Yoruba associada aos vento e as águas, sendo mulher de Xangô, o senhor dos raios e tempestades.
É saudada como "Iya mesan lorun", título referente a incumbência recebida como guia dos mortos.

Iansã é associada a sensualidade, dos Orixás femininos é uma das mais guerreira e imponente, tem um temperamento ardente e impetuoso. As danças de Iansã são guerreiras e, se Ogum está presente, ela se engaja em duelo com ele, em lembrança de suas antigas divergências.

Seu ritmo é chamados agó, ilu, ou aguerê de Iansã e de tão rápido, repicado e dobrado, também é conhecido como "quebra-prato". É o mais rápido ritmo do candomblé, correspondendo à personalidade agitada, contagiante e sensual desta deusa guerreira, senhora dos ventos e que tem poder de afastar os espíritos dos mortos (eguns).

Arquétipo

Segundo a mitologia, os filhos de Iansã são pessoas agitadas. Diretos no que querem, não escondem sentimentos de ninguém. Uma grande ofensa a Oiá é a agressão, de qualquer espécie, aos seus filhos. O agressor terá um adversário até à morte.

Os filhos de Iansã são pessoas propensas a dar grandes guinadas em suas próprias vidas, a qualquer momento, sem se importarem com ninguém. Não gostam de se prender a ninguém pois são livres como o vento.

Suas filhas, ou mulheres que tenham Iansã póximo de si (como madrinha por exemplo ou "mãe") aqui na Terra, são mulheres sensuais, ousadas, falam o que pensam e sofrem muito, seja por qualquer motivo, especialmente no amor. São mulheres que batalham, trabalham incansavelmente, são guerreiras, lutam pelo que querem sem esmorecer. Geralmente essas mulheres cuidam de tudo sozinha, até dos filhos.

O arquétipo de Iansã é o das mulheres audaciosas, poderosas e autoritárias. Mulheres que podem ser fiéis e de lealdade absoluta em certas circunstâncias, mas que, em outros momentos, quando contrariadas em seus projetos e empreendimentos, deixam-se levar a manifestações da mais extrema cólera. Mulheres, enfim, cujo temperamento voluptuoso e sensual pode levá-las a aventuras extraconjugais múltiplas e freqüentes, o que não as impede de continuarem muito ciumentas de seus maridos, por ela enganados.

Lenda

Estavam todos os orixás, divindades do panteão Yoruba, reunidos em uma grande festa até que chegou Omolú. Durante todo o tempo, Omolú ficou num canto sem dançar.
Iansã, inquieta com tal situação, aproximou-se do senhor, que usava uma roupa de palha cobrindo o rosto (e que deixava Iansã mais intrigada ainda) e o convidou para dançar. Iansã dançou tão rápido que vento proporcionado por seus giros levantou a roupa de Omolú que, para surpresa de todos, era um homem de extrema beleza.

O reconhecimento e admiração de todos por Omolú o deixou muito feliz, pois anteriormente era muito desprezado. Por gratidão a Inhansã, Omolú ofertou-lhe parte de seu poder, dando a Iansã a capacidade de conduzir os eguns dançando com seu irukerê. E Inhansã tornou-se assim mais poderosa e adorada.

Cultura afro-brasileira

Em Salvador, Oyá ou Iansã é sincretizada com Santa Bárbara é homenageada no dia 4 de dezembro na Festa de Santa Bárbara da Igreja Católica, é um grande evento sincrético, composto de missa, procissão feita por católicos e praticantes do Candomblé, além das festas nos terreiros, o caruru de Iansã, samba de roda e apresentação de grupos de capoeira e maculelê.

Segundo a liturgia católica, Santa Bárbara era uma adolescente de 15 anos muito bela e cheia de personalidade. Quando seu pai viajava, a trancava na torre para que ela não arranjasse pretendentes, pois queria ganhar um belo dote casando-a com um homem rico.

Oyá é sincretizada na Santeria cubana com imagens Católicas de Nossa Senhora da Candelária, Nossa Senhora da Anunciação ou também Santa Theresa.

Senhora do Rio Niger, é representada com um alfange e uma cauda de animal nas mãos, e com um chifre de búfalo na cintura.

Segundo as lendas yorubanas e nas lendas provenientes do Candomblé, Iansã foi mulher de Ogum e depois de Xangô, ela abandonou Ogum para viver com Xangô, seu verdadeiro amor.
Xangô divindade dos trovões e da justiça roubou-a de Ogum.

Na liturgia da Umbanda, Iansã é senhora dos eguns, os espíritos dos mortos, menos cultuados no Candomblé.

Na Umbanda a guia de Iansã é de cor amarela e no Candomblé é vermelha.
No Candomblé também é chamada de Oyá.

Seus devotos costumam lhe oferecer sua comida favorita, o àkàrà (acarajé), ekuru e abará.

Oferendas: àkàrà ou acarajé, ekuru e abará.
Dia da semana: quarta-feira
Cores: Marrom, vermelho, rosa , branco e coral
Símbolos: chifres de búfalo, um alfanje e o iruexim ou irukerê (espanta-moscas de rabo de búfalo), com o qual comanda os eguns (espíritos dos mortos), espada de cobre.
Proibições: Abóbora, arraia e carneiro.
Saudação: Eparrei Iansã (Umbanda) Epa hei Oya! (Candomblé)



Oyá no Batuque

Orixá Oyá como é chamada sua manifestação jovem, é o mesmo Orixá Yansã, em sua forma mais madura. É o primeiro Orixá feminino a ser cultuada na hierarquia Gêge- Ijexá. Está associada aos ventos, raios e tempestades. Muito comum entre os batuqueiros ao se perceber uma forte ventania, dizer-se que a Oyá está “abanando a saia”.

Também rege a sexualidade feminina e, por conseguinte, a sedução e as paixões; é a “dona do teto” e da panela, portanto para os batuqueiros, quem tem Oyá nunca fica desabrigado, e nem passa fome.

Pelo fato de dominar os Eguns, é sempre invocada quando o problema se trata de uma possível perturbação causada por estes espíritos não evoluídos. Por ser um Orixá diretamente associado a Ogum, é cultuada nos mesmos lugares e em companhia deste Orixá, sendo que aceita melhor suas oferendas, se depositadas junto a uma pitangueira, que é uma árvore consagrada a este Orixá feminino.

Suas cores são a combinação do vermelho com o branco, dando ênfase ao vermelho. Seu número é sete, seu dia da semana a Quinta- feira e a Terça-feira por estar também associada a Xangô; seu sincretismo afro-católico é Santa Barbara."

Oyá no Xambá

Oya/Iansã - Orixá feminino dos ventos, das tempestades e do rio Níger que em iorubá significa Odò Oyá.

Foi a primeira mulher de Xangô e tinha um temperamento ardente e impetuoso e é o único orixá capaz de enfrentar e dominar os eguns (espíritos dos mortos) devido a seu caráter guerreiro.

Na Nação Xambá, no dia 13 de dezembro, ao meio-dia acontece a louvação a Oyá, toque em reverência a esse orixá, momento no qual todos os yaôs da casa vestem-se com a roupa de seu orixá.

Os filhos desse orixá são audaciosos, poderosos e autoritários.
Mês dedicado a Oyá é dezembro.
Seu dia é quinta-feira.
Cor da roupa rosa, guia vermelha.
Saudação: Epahey Oyá e Epahey Yansã.
Ferramenta: espada.

ALINE SANTOS é Jornalista, Terapeuta Holística, Taróloga, Cabalista, Sacerdotisa, Professora, Educadora Patrimonial, Escritora, Numeróloga, Pesquisadora de Ciências Ocultas, Palestrante, e atende nas áreas de Florais de Bach, Fitoterapia, Aromaterapia, Terapia com cristais, Reiki, Cura Prânica, Tarô Terapêutico e Numerologia.
Email: arcanjo.azul@hotmail.com

Dia Internacional da Mulher

E OS DEUSES CRIARAM A MULHER


"Quando os Deuses criaram a mulher tomaram a astucia da raposa, o calor do sol, a paixão do fogo, o frescor da manhã, a suavidade da brisa, a profundidade do mar, a inconstância das ondas, a ferocidade da leoa, o aroma das flores, a douçura do mel, a alegria do amanhecer, e o mistério da noite....e desta mágica poção nasceu a MULHER"

E não satisfeitos com a sua obra, presenteou-a com talentos como inteligência, sabedoria, sensualidade, espiritualidade, força, graciosidade e muito amor. Eles a enfeitaram com entendimento, piedade, fé, esperança caridade, prudência, justiça e temperança e ensinaram-lhe a combater a soberba, a avareza, a luxúria, a ira, a gula, a inveja, a preguiça e o preconceito.
E após criar tão maravilhosa criatura, linda, exuberante, excelsa, magnânima, esperta, culta e inteligente, concedeu-lhe a fertilidade para que fosse co-criadora da humanidade, e após soprar-lhe o folego da vida a exibiu ao mundo dizendo:

“A MULHER É UMA BÊNÇÃO QUE DEI AO HOMEM E O HOMEM É UMA BÊNÇÃO QUE DEI À MULHER”.

ALINE SANTOS é Jornalista, Terapeuta Holística, Taróloga, Cabalista, Sacerdotisa, Professora, Educadora Patrimonial, Escritora, Numeróloga, Pesquisadora de Ciências Ocultas, Palestrante, e atende nas áreas de Florais de Bach, Fitoterapia, Aromaterapia, Terapia com Cristais, Reiki, Cura Prânica, Tarô Terapêutico e Numerologia.

sábado, 5 de março de 2011

Mito do Andrógino e as Almas Gêmeas




No fundo de nossas almas todos nós nutrimos a fantasia de que em algum lugar deste pequeno planeta alguém está esperando, olhando para o mesmo céu e sem saber que a gente existe, pensa em nós... e deseja estar ao nosso lado....
Essa pessoa nossa outra metade. A nossa alma gêmea.

Quem é este "Outro" que deveria nos completar?

E por que, apesar dos nossos esforços, parece tão difícil encontra-lo. Por que a sensação de que ele ou ela está sempre um pouco adiante, mais longe e mais longe... sempre tão distante de nós.
Se a vida é a arte do encontro, como dizem os poetas, por que existe tanto desencontro pela vida.

O que será que nós esperamos deste encontro? A julgar pelo que dizem os mitos, as lendas, as canções, os poemas e as notícias de jornal, nós queremos tudo.
Nada menos do que a plenitude, que o "êxtase", este sentimento de prazer ou encantamento divino, necessário para que nos sintamos completos, onde não admitimos nem sequer uma migalha faltando, para nos sentirmos completos, inteiros e justificados...

Na obra o Banquete, do filósofo grego Platão encontramos o Mito do Andrógino.
Não entenda mito como mentira, fábula ou conto de fadas. Os mitos são histórias nascidas da alma coletiva dos seres humanos ( segundo Jung são Arquétipos). Intuições profundas da mente inconsciente transformadas pela magia das palavras em contos, lendas e mitos.

O andrógino, mais do que ser um e outro, homem (andros) e mulher (gynos), como a maioria em geral pensa, é um só ser.
Andrógino é o ser quase perfeito porque, assim como os deuses, ele contém em si mesmo todas as oposições, ele se basta a si mesmo, é completo e fecundo, dá a luz a si próprio. Em muitas mitologias, assim como na Bíblia o primeiro homem era um ser andrógino.

No início, a raça dos homens não era como hoje, era diferente, não haviam apenas dois sexos. Segundo o livro "O Banquete", de Platão, existiam três criaturas míticas proto-humanas.
No livro, o comediógrafo Aristófanes descreve como haveriam surgido os diferentes sexos.

Havia antes três seres: Andros, Gynos e Androgynos, sendo Andros uma entidade masculina composta de oito membros e duas cabeças, ambas masculinas, Gynos entidade feminina mas com características semelhantes, e Androgynos composto por metade masculina, metade feminina.

O NASCIMENTO DOS ANDRÓGINOS

A Mitologia Grega conta que Zeus declarou guerra ao seu pai Cronos e aos demais Titãs com a ajuda de Gaia. E durante cem anos nenhum dos dois lados chegava ao triunfo. Gaia foi até Zeus e prometeu que ele venceria e se tornaria rei do universo se descesse ao Tártaro e libertasse os Ciclopes e os Hecatônquiros filhos de Gaia.

Ouvindo os conselhos de Gaia, Zeus venceu Cronos, com a ajuda dos filhos libertos da Terra e se tornou o novo soberano do Universo. Todavia, Zeus realizou um acordo com os Hecatônquiros para que estes vigiassem os Titãs, que Zeus voltou a aprisionar no fundo do Tártaro. Gaia então se revoltou com a traição de Zeus e lançou mão de todas as suas armas para destrona-lo.
Como vingança ela pariu incontáveis Andróginos, seres com quatro pernas e quatro braços que se ligavam por meio da coluna vertebral terminado em duas cabeças, além de possuir os órgãos genitais femininos e masculinos.

Essa criatura primordial era redonda: suas costas e seus lados formavam um círculo e ela possuía quatro mãos, quatro pés e duas cabeças com duas faces exatamente iguais, cada uma olhando numa direção, pousada num pescoço redondo. A criatura podia andar ereta, como os seres humanos fazem, para frente e para trás.
Mas podia também rolar sobre seus quatro braços e quatro pernas, cobrindo grandes distâncias, velozes como um raio de luz. Eram redondos porque redondos eram seus pais: o homem era filho do Sol. A mulher, da Terra. E o par, um filhote da Lua.

Os Andróginos surgiam do chão em todos os quadrantes da Terra, sua força era extraordinária e seu poder imenso. E isso tornou-os ambiciosos, levando-os a desafiar os Deuses e a escalar o Monte Olimpo com a intenção de destronar Zeus e destruir os Deuses.

Reunidos no conselho celeste, Zeus aconselhado por Têmis, decidiu que ele e os demais Deuses deveriam acertar os Andróginos na coluna, de modo a dividi-los exatamente ao meio, para que se tornassem menos poderosos, sem precisar aniquila-los.
Pois aniquilar as criaturas significaria ficar sem os sacrifícios, as homenagens e a adoração. Mas insolência das criaturas era totalmente inadmissível, e por isso deveriam ser castigadas.

Portanto o Grande Zeus decidiu deixa-los viver, mas divididos para torna-los mais humildes e fracos e assim diminuir seu orgulho fazendo-os andar sobre duas pernas, diminuindo sua força e poder, com a vantagem de aumentar seu número. A medida que as criaturas eram cortadas em dois.

Apolo ia virando suas cabeças, para que pudessem contemplar eternamente sua parte amputada, como uma lição de humildade. Apolo também curou suas feridas, deu forma ao seu tronco e moldou sua barriga, juntando a pele que sobrava no centro formando o umbigo, para que eles lembrassem do que haviam sido um dia.

Seccionado Andros, originaram-se dois homens, que apesar de terem seus corpos agora separados, tinham suas almas ligadas, por isso ainda eram atraídos um pelo o outro. O mesmo ocorrendo com os outros dois seres Gynos e Androgynos. Andros deu origem aos homens homossexuais, Gynos às lésbicas e Androgynos aos heterossexuais.
Segundo Aristófanes, seriam então dividos aos terços os heterossexuais e homossexuais, homem, mulher e a união dos dois.

E foi aí que as criaturas começaram a morrer. Morriam de fome e de desespero. Abraçavam-se e deixavam-se ficar assim até a morte. E quando uma das partes morria, a outra ficava à deriva, procurando, procurando...até morrer também.
Zeus ficou preocupado com o destino das criaturas, pois se isso continuasse elas acabariam por se extinguir, então aconselhado por Têmis, ele ordenou a Apolo que virasse as partes reprodutoras dos seres para a sua nova frente, para que através do ato sexual pudessem estar novamente unidos ainda que por alguns momentos. Se antes, eles copulavam com a terra de agora em diante, se reproduziriam entre eles, um homem numa mulher. Num abraço, assim a raça não morreria e os Deuses continuariam a ser adorados e reverenciados.

As criaturas poderiam continuar vivendo e com o tempo eles esqueceriam o ocorrido e apenas perceberiam seu desejo por sua outra parte. Um desejo jamais inteiramente saciado no ato de amar, porque mesmo derretendo-se no outro pelo espaço de um instante, a alma saberia, ainda que não conseguisse explicar, que seu anseio jamais seria completamente satisfeito. E a saudade da união perfeita renasceria, nem bem os últimos gemidos do amor se extinguissem.

E esta é a nossa história.

De como um dia fomos um todo, inteiros e plenos. Tão poderosos que eramos temidos pelos Deuses. É a história também de como um dia, partidos ao meio, viramos dois e aprendemos a sentir saudades. E é a razão dessa busca sem fim do abraço que nos fará sentir de novo e uma vez mais, ainda que só por alguns momentos, a emoção da plenitude que um dia, há muito tempo, perdemos.

Isto pode ser a causa do porque entre chineses e os hindus, tenham florescido rituais, técnicas e filosofias, cujo objetivo era transformar a energia nascida deste abraço, em energia espiritual, e fazer do sexo o um caminho para alcançar o divino. Fazendo do ato amoroso algo que de fato pudesse preencher o vazio de que somos feitos. Alguma coisa forte o bastante, para nos alçar de novo no caminho até o alto da montanha dos Deuses.


Aline Santos é Jornalista,Terapeuta Holística,Taróloga, Cabalista, Professora, Educadora Patrimonial, Escritora, Palestrante, e Pesquisadora de Ciências Ocultas, e atende nas áreas de Florais de Bach, Fitoterapia, Aromaterapia, Terapia com cristais, Reiki, Cura Prânica e Tarô Terapêutico.
E-MAIL: arcanjo.azul@hotmail.com